quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Saga Crepúsculo, Vampiros Modernos e Romantismo Clássico



Quem buscar observar as características e aspectos do Romantismo sendo retomados na saga Crepúsculo, de Stephenie Meyer, pode notar em cada um dos personagens centrais os traços do Romantismo, típicos desse período literário.


Por Janaina M. Cerutti





Harry Potter
A série Harry Potter se tornou tão popular que em relativamente pouco tempo (cerca de 15 anos) vendeu 450 milhões de exemplares (compilados até julho de 2011), em mais de 67 línguas. Somente Harry Potter e a Pedra Filosofal, de 1997 (o primeiro e o mais conhecido dos livros da série), teve cerca de 120 milhões de cópias comercializadas. Até agora, foram sete livros e oito adaptações cinematográficas.
Crepúsculo, obra publicada em 2005, dispensa apresentações: as vendas dos livros da série falam por si só, sendo superada apenas por Harry Potter , pouco menos de uma década antes. Trata-se de uma história de amor com toque sobrenatural, ainda que este aspecto fique em segundo plano no casal; o fio condutor da obra é a paixão avassaladora entre os dois personagens adolescentes, um amor que os consome e, com isso, atrai uma legião de fãs, de todas as idades. Isto soa familiar?
O período literário batizado Romantismo surgiu na Europa no pós-Revolução Francesa, no início do século XIX. O movimento foi consagrado e simultaneamente consagrou autores como Lord Byron , na Europa, e Álvares de Azevedo, no Brasil. Contrário ao movimento que lhe deu sucessão, o Realismo, o período Romântico é recheado de características como a idealização, sentimentalismo exacerbado, fusão do grotesco e do sublime. Aqui, pretendemos ver como, realizando a leitura de qualquer dos quatro livros pertencentes à saga Crepúsculo, pode-se notar a presença dessas características e tantas outras que marcaram o século XIX literariamente.

Lord Byron
George Gordon Byron (1788-1824), foi um dos maiores poetas da língua inglesa, líder do movimento Romântico e uma de suas figuras mais influentes. Toda a obra de Byron exprime o pessimismo do Romantismo. Rebelde, opôs-se vigorosamente durante toda a sua vida contra as convenções morais e religiosas. Perseguido por seus excessos e escândalos, Byron impôs-se um auto-exílio, tendo morrido na Guerra da Independência da Grécia, em 1824, quando lutava a favor dos gregos contra os turcos.
Individualismo e Egocentrismo
Características marcantes do Romantismo, que tinha seu foco no ser humano e suas emoções particulares, o individualismo e o egocentrismo aparecem em Crepúsculo desde o primeiro capítulo, na personagem Isabella Swan, protagonista da saga. Ao iniciarmos a leitura, o primeiro aspecto individualista já aparece: o livro é narrado em primeira pessoa, com quase nenhuma consideração ou menção ao que os demais personagens possam pensar sobre as cenas. O ponto de vista é exclusivamente da protagonista.

"Nunca pensei muito em como morreria - embora nos últimos meses tivesse motivos suficientes para isso -, mas, mesmo que tivesse pensado, não teria imaginado que seria assim. [...] Sem dúvida era uma boa forma de morrer, no lugar de outra pessoa, de alguém que eu amava." (MEYER, 2008, p.3)

No trecho acima, já se percebe como toda a trama é centrada apenas nos desejos, pensamentos e anseios da protagonista. Mesmo diante do que ela imagina ser a morte certa, ainda se destaca sua visão particular dos fatos. O desenvolvimento da personagem de Bella Swan é inteiramente individualista e egocentrista, mesmo quando ela interage com seu par romântico, Edward Cullen, também um exemplo claro do individualismo. Antes de assumir sua atração por Swan, Cullen toma atitudes voltadas apenas para o que seria melhor para ele e sua família, em um segundo plano. No livro da saga não publicado por ter "vazado" para a internet, Midnight Sun, percebe-se ainda mais acentuadamente o caráter individualista e egocêntrico de Edward. Seguindo o mesmo padrão dos quatro livros anteriores: centrado no personagem de Edward Cullen e contado em primeira pessoa, Midnight Sun mostra a personalidade não revelada de Edward, quando vista de fora por Isabella.

"Eu me afastei dela com asco - revoltado com o monstro desesperado para tomá-la. Por que ela tinha de vir até aqui?
Por que ela tinha de existir? [...] Por que esta humana irritante tinha de ter até mesmo nascido? (MEYER, 2008, p.13)

No trecho acima fica clara a maneira como Edward vê as pessoas - em especial os humanos - ao seu redor: detalhes em seu caminho, onde a única pessoa que realmente importa é ele. Mesmo o cuidado que ele tem para com a sua família nasce do desejo de se provar para seu pai adotivo, Carlisle Cullen. Conforme o livro progride - tanto Crepúsculo, quanto Midnight Sun, que tratam do mesmo espaço temporal - a maneira como Edward vê Bella se transforma, mas tal transformação não ocorre por apreço a outros indivíduos em geral, mas apenas por apreço aos indivíduos que interessam ao protagonista da vez.

Nos demais livros da saga, as atitudes dos dois protagonistas podem ser vistas como notadamente individualistas e egocêntricas. O fim do primeiro livro, onde Bella e Edward fogem, não leva em consideração o estado emocional do pai da personagem principal, ou mesmo de sua mãe, ou amigos. "Repeti as últimas palavras de minha mãe quando ela saiu pela mesma porta tantos anos atrás. [...] Minhas palavras cruéis fizeram seu trabalho - Charlie ficou paralisado na soleira da porta, atordoado, enquanto eu corria para a noite." (MEYER, 2008, p.293-294). Edward, ao decidir morrer no final do segundo livro, Lua Nova, pensa muito pouco sobre o impacto que sua morte teria sobre o restante de sua família. "Pensei que já tivesse explicado com clareza. Bella, não posso viver num mundo onde você não exista." (MEYER, 2008, p. 411)

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